quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ladrão

Eu não sou ladrão, não senhor. Não ando por aí de terno, gravata e valise na mão. Nem limpo eu ando. Ladrão anda limpo, porque trabalho, trabalho mesmo suja. Trabalho não tem nada a ver com roupa engomada, creme para as mãos, sapato lustrado. E ladrão é aquele cara que não tem mão calejada, respingo de tinta e suor na testa. Isso tudo eu tenho. Se quiser, tire uma foto minha, leve minha roupa como evidência.
Pode checar aí na gravação que eu não falo direito. Isso lá é coisa de ladrão? Ladrão que é ladrão compra educação. Só não exercita com a gente. Mas fala errado na frente de ladrão pra ver. Ele tira sarro do senhor. Isso se ele enxergar o senhor, porque ladrão é meio míope. Só enxerga números – de cédulas, de contas, de eleitores – só números. Eu nem contar sei. Como é que eu vou ser ladrão?
Se o senhor precisar de alguém que confirme que eu sou trabalhador, é só ir lá no bar do Luizão e perguntar para os meus amigos. Porque, o senhor sabe, ladrão não tem amigo. Ladrão só anda com ladrão. É pra caso alguém diga que ali tem ladrão, um apontar o outro. E o pior é que quando gritam “pega ladrão”, é gente como eu que corre.
Eu corro mesmo é porque ladrão adora dizer que a gente é ladrão. Eu pelo menos não sou. E nem é por convicção. É por falta de oportunidade. É o povo que escolhe o ladrão e ninguém me elegeu para isso. É uma pena decepcioná-lo, mas não vai ser o senhor que vai capturar um ladrão. De ladrão escolhido pela gente, só a gente pode cuidar. E se ladrão não liga pra gente, a gente liga menos ainda pra ladrão. Afinal, dá menos trabalho criar um ladrão a cada quatro anos que destruir um por dia. E, no final das contas, não faz mesmo sentido. Pra que tirar a autorização para roubar se foi a gente mesmo que fez o ladrão?

12 comentários:

blog disse...

É...é um bom texto, sem dúvidas. Declaradamente irônico, sem meias palavras.
Na verdade, no que diz respeito à linguagem, é um simulacro. Indivíduos humildes assim não usam corretamente a ênclise.
Mas em texto literário vale tudo - e esse, independentemente de qualquer coisa, é literário.
Vale.

Guilherme SanPer disse...

oo nu começo eu axei que iria ser chato, depois vi que é um ótimo texto, parabens, palavras muito bem escritas, tudo muito ironicamente colocado...


http://ehtudoloco.blogspot.com

Unknown disse...

Parabéns pelo texto! Gostei!

Ateliê dos docinhos disse...

parabêns pela crônica..deu pra entender bemmm...belo blog tbm

Daniel Freitas disse...

muito bom kra,realmente no começo pareceu serumpouco chato,mas valeu a pena ler!!parabens


leia tambem:

http://petboys.blogspot.com

Daniel Freitas disse...

passando de novo so pra constar!!

Anônimo disse...

Mudou a cara totalmente do texto na metade dele, e fiocu muito interessante, parece falar de algo mas no fundo é outro assunto, e muito engraçado de um jeito ironico claro,

Rafael Tupiná disse...

ola uriel

so para esclarecer
enquando eu li e postavo no blog do pityboy vc posto tenteu???

mas seu site e manero
parabesn !!!

DuDu Magalhães disse...

E o ladrão contra o pão!

essa foi tosca né!
mas leia nas entrelinhas...


abrass

http://www.visaocontraria.blogspot.com/

danii disse...

ótimo texto...
sou assistente social e lido bem com essa realidade
paliativa e não preventiva...
pra que educação? pra fazer o povo pensar? não ... deixa assim mesmo né? rsrsrs
infelizmente é o nosso país...
bjão
estarei sempre aqui...

www.daniilopes.blogspot.com

Anônimo disse...

Parabens excelente texto!!!!

abço

http://pequenasverdades.zip.net/

Vanessa Gonçalves disse...

Ótimo texto!
Parabéns
Bjs