terça-feira, 4 de março de 2008

Contos

Como disse, não tenho o que fazer e vou começar a colocar capitulos de contos aqui, talvez interesse um pouco mais, junto com esses capitulos vou intercalar algumas coisas que para mim pode ser interessante, não vejo BBB, mas seria um bom assunto pra se colocar aqui, examinando o psicologico de cada um lá dentro, mas acho aquilo uma verdadeira cultura inútil, perdendo só pra Casa dos Artistas. Começando o Conto, boa leitura a todos.

A CASA QUE NINGUÉM QUERIA - CAPITULO 1


Aos dez anos eu não acreditava mais em papai noel. Aos onze as histórias sobre bicho-papão já não me assustavam. Quando completei doze eu não acreditava em casas mal-assombradas, mas isso porque eu nunca tinha sido convidado a visitar uma.
E o convite veio numa tarde quente de verão, lembro-me de cada detalhe daquele domingo de janeiro de 1990.
Mamãe tinha viajado para Búzios com as amigas naquele final de semana. Meu pai ficara com a dura missão de cuidar de mim e do meu irmão; gêmeos idênticos. Idênticos não só fisicamente, mas em quase tudo. Gostávamos dos mesmos programas de TV e praticávamos os mesmos esportes, éramos super ativos, não parávamos quietos um segundo sequer. Mamãe costumava nos chamar de Furacão Um e Dois. Eu era o Furacão Um, mas não me pergunte por qual motivo. E por mais idênticos que fôssemos, ela nunca errava ao nos dar uma bronca. Nunca. Já meu pai, uma vez levei uma surra no lugar do meu irmão. Hoje a gente ri muito dessa história em reuniões familiares, mas no dia eu não achei a menor graça.
Papai trabalhava como corretor de imóveis naquela época. Meu irmão e eu achávamos a coisa mais chata do mundo. Morriámos de inveja do Caio. Caio era um ano mais novo, éramos vizinhos desde o berçário; seu pai era piloto da Vasp, aquilo sim era profissão legal. Acho que uma vez dissemos isso na frente do meu pai. Pobre coitado aquilo deve tê-lo magoado bastante. A sinceridade de uma criança chega a ser cruel.

Estávamos os três na cozinha preparando um lanche quando o telefone tocou. Ficamos um olhando pra cara do outro até que meu pai franziu a teste e olhou direto pra mim.
- O que está esperando? - disse ele, não tão zangado. - Eu sou o único com as duas mãos ocupadas aqui.
E o Furacão Um foi atender o telefone.
- Alô.
- Paulo?
Reconheci a voz imediatamente. Era o Sr. Martussely, chefe do meu pai. Ele nunca acertava nossos nomes, na verdade, quase ninguém acertava.
- Não - disse eu, tentando não ser rude - Sou o Marcio
.
- Ah, desculpa. Até a voz de vocês é igual - como seu eu não tivesse ouvido essa desculpa um zilhão de vezes - Seu pai está por aí, campeão?
- Sim - afastei o telefone da boca e gritei na direção da cozinha: - Paaaaaaaaaaaaaaaaai, é pra você!
Voltei para a cozinha, meu irmão já estava com um baita sanduíche nas mãos. Paulo comia praticamente em dobro, mesmo assim tivemos corpos iguais até os dezoito anos, de lá pra cá ele engordou. E se continuar engordando não vai conseguir entrar no seu carro daqui alguns meses.
- O que está olhando? - disse Paulo, com uma mancha de maionese no canto da boca.
- Sua cara de idiota - respondi e sorri ironicamente.
- Se eu tenho cara de idiota você também tem.
E era a mais pura verdade, muito cuidado ao ofender seu irmão gêmeo.
Quando papai voltara da cozinha havia algo diferente nele. Ele estava vermelho e sua mão esquerda tremia um pouco. Aqueles eram os sintomas mais claros de que ele estava nervoso. Era um sinal de que era melhor ficarmos quietos e bonzinhos.
- Porra, hoje é domingo! - esbravejou, batendo forte na mesa. As migalhas do pão saltaram uns vinte centimetros e se o copo de café com leite do Paulo não estivesse em suas mãos teria voado pelos ares também.
Não dissemos nada, parti um pedaço de pão e enfiei duas fatias de presunto. Enquanto pegava uma fatia de queijo ergui os olhos para meu pai. Ele não estava mais tão vermelho e sua mão não tremia mais.
- Desculpa - disse ele, um pouco envergonhado - Vocês não tem culpa.
- O que ele queria, pai? - perguntei, enfim.
Papai encheu um copo com leite, tomou metade do copo, depois respondeu meio desanimado.
- Tem uma casa antiga na saída da cidade, faz tempo que tentamos vendê-la ou alugá-la, mas nunca conseguimos. Nem o Francisco, o melhor corretor da empresa, conseguiu essa façanha.
- E agora tem alguém interessado nela? - perguntou Paulo
Papai levantou os olhos na sua direção, ainda sem ânimo algum, respondeu.
- Parece que sim.
- Mas hoje é domingo! - disse eu, chateado.
Papai finalmente sorriu, foi um sorriso amarelo, mas sorriu. E olhou para mim.
- Nem tudo está perdido - disse ele. Sua voz parecia mais empolgada - Pode ser até divertido.
Olhei para meu irmão e ele olhou para mim também. Se tivessemos combinado, não teria dado tão certo. Nossas expressões faciais foram as mesmas, senti-me em frente de um enorme espelho.
- Divertido? - dissemos praticamente juntos. A sensação foi mais bizarra ainda.
Papai terminou de beber o leite e respondeu.
- Dizem que está casa é... mal-assombrada.
Se você deseja que esta frase tenha um efeito assustador é necessária certa mandinga ao dizê-la. E meu pai não a possuía. Ele disse de uma forma que pareceu um final de piada. Papai quase caiu numa gargalhada seca ao dizer "mal-assombrada". Talvez ele tenha feito de propósito. Não sei se teríamos o acompanhado se ele tivesse dito de uma forma mais horripilante; ou se tivesse nos contado que nove pessoas tinham desaparecido naquela casa nos últimos anos, o que importa é que nós o acompanhamos.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST.
já são 2 e 24 da manhã preciso durmir, boa noite e espero que tenham gostado.



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