quinta-feira, 6 de março de 2008

Contos

A CASA QUE NINGUÉM QUERIA - CAPÍTULO 3






Quando entramos no carro para voltarmos para nossa casa, pensei ter ouvido algumas notas do piano. E se isso realmente aconteceu, eu fui o único a ouvir, pois ninguém comentou a respeito. Não contei nada sobre a voz no telefone nem para meu pai, nem para meu irmão. Só cheguei a contar, anos depois quando a poeira havia baixado. E realmente, não sei se acreditaram na minha história.
No dia seguinte, papai saiu cedo pra trabalhar. Eu estava com minha mãe - que havia chegado de viagem no domingo a noite - na cozinha quando o telefone tocou, ela olhou para mim. Não foi preciso dizer nada, entendi perfeitamente o recado. Corri para a sala e - quando olhei para o telefone - senti um arrepio no meu corpo todo.
- O que está esperando? - gritou mamãe da cozinha - atende logo!
Engoli seco e tirei o telefone do gancho. Daquele dia em diante, eu nunca mais consegui atender um telefone sem sentir um frio na barriga.
- Alô - disse eu
- É da casa do Sr. Henrique Lopes?
Deixei o telefone cair, tamanho foi meu susto. Eu conhecia aquela voz. É claro que conhecia. Era a mesma voz que eu ouvira no telefone antigo.
- Alô! Alô! - repetia o homem no telefone - Tem alguém aí?
Mamãe veio conferir o que estava acontecendo
- Que barulho foi aquele? - disse ela atrás de mim
- Nada demais - disse eu, pegando o telefone do chão - eu apenas derrubei o telefone.
Minhas mãos tremiam, minha mãe percebera. Mãe é mãe.
- O que você tem? - e tirou o telefone da minha mão, gentilmente.
- Alô! - disse novamente o homem.
- Quem é? - disse mamãe, ao telefone.
- Meu nome é Justiniano Oliveira. O Sr. Henrique Lopes está?
O homem falava muito alto, pude ouvi-lo como se eu estivesse segurando o telefone contra meu próprio ouvido.
- Ele acabou de sair - seus olhos estavam fixos em mim, provavelmente tentando entender porque eu estava tão assustado - foi mostrar uma casa para um cliente.
- Acredito que eu seja este cliente.
Mamãe deu um sorriso.
- Ah, entendi - disse ela, graciosamente. Mamãe tem o dom de conversar com qualquer um como se fosse um amigo da época do colégio. - Meu marido disse que você chegaria bem cedo de São Paulo, você ainda está na rodoviária?
- Sim, senhora. Sabe se ele está vindo me buscar?
- Sim, está. Atrasou-se um pouquinho hoje, mas logo estará aí.
- Ah, que bom. Perdoe-me pelo incômodo senhora.
- Incômodo algum, se você topar com um homem alto vestindo terno-cinza escuro e carregando uma maleta preta, é ele.
Senti uma vontade imensa de tirar o telefone das mãos da mamãe e gritar para aquele homem ficar longe daquela casa sinistra. Mas o que ele teria pensado daquilo, certamente pensaria que eu era um maluco de pedra.
- Que cara é está? - perguntou minha mãe, passando a mão no meu rosto, procurando sinal de febre - Parece que viu um fantasma.
Eu não tinha visto nenhum fantasma, mas talvez tivesse ouvido um.
Não consegui sossegar enquanto meu pai não voltou para nossa casa. Senti um alívio tão grande quando ele apareceu à porta, com um sorriso de orelha a orelha. Deu um beijo tão apaixonado na minha mãe, que cheguei a sentir nojo.
- Nossa! - exclamou mamãe, surpresa - O que deu em você? Viu um passarinho verde?
- Consegui vender a casa que ninguém queria - respondeu ele, quase espumando de felicidade. - Vendi a casa mais dificil de se vender em todo o planeta Terra!
Apesar de toda alegria nos olhos do meu pai, não consegui encarar aquilo como uma noticia boa. Eu sentia que algo ruim estava para acontencer.
E acontenceu.
Após duas semanas morando sozinho naquela casa, Justiniano Oliveira desaparecera. Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Seu corpo jamais foi encontrado.

FIM

Espero que tenham gostado, logo começarei a digitar outro. Um abraço a todos que acompanharam.

Um comentário:

Edimar Blazina disse...

Finalmente terminou, parecia novela das 8 ahuhauaha brincadeira!

Fala aí Jornalista, tá escrevendo nivel Moacir Scliar já!

Abração!