quarta-feira, 5 de março de 2008

Contos

A CASA QUE NINGUÉM QUERIA - CAPITULO 2


Não tenho certeza se a casa continua nas mesmas condições daquela época. A descrção que farei será baseada naquele verão de 1990, quando a visitei pela primeira e única vez. A casa fica em Pindamonhangaba quase na divisa da cidade vizinha de Tremembé. Seus muros altos impediam que vandâlos a invadissem com facilidade, (se bem que a casa tinha uma reputação tão ruim que nenhum morador local se atrevia a invadi-lá, mesmo com os portões escancarados). Os portões de ferro eram altos e estavam enferrujados. A tinta preta resistira em apenas alguns pontos. Passando pelos portões havia um longo caminho de cimento até a casa. Ao lado deste caminho haviam árvores de todos os tipos, elas estavam quietas; suas folhas imóveis. Tudo que a tarde estava muito quente e nenhuma brisa sequer, mas eu nunca tinha visto árvores tão imóveis como aquelas.
- Isso aqui está bunito demais para ser mal-assombrado - disse Paulo, olhando as árvores ao redor.
Eu não estava achando nada bunito. Era estranho
- Não está faltando ninguém aqui conosco? - perguntei
- Sua mãe, iria adorar isso aqui .
Duvido muito, mamãe era e continua sendo a criatura mais medrosa da face da Terra. É capaz de subir na cadeira e aprontar o maior escandalo por causa de uma minúscula lagartixa.
- Não estou falando da mamãe - corrigi - estou falando da pessoa que está interessada na casa, ela não deveria estar aqui também?
- Ele só virá amanhã de manhã, o rapaz mora em São Paulo. Nós estamos aqui para checar se está tudo em ordem.
- Ah, tá.

Caminhamos todo o caminho de cimento até a casa. Dava a impressão de que estávamos passeando por um bosque. Uma vez ou outra tive a sensação de que alguma coisa saltaria de trás de alguma árvore, mas isso não aconteceu. Olhei para trás e vi como era longo aquele caminho, os portões de ferro, la na outra ponta, ficaram minúsculos. O nosso carro, estacionado do lado de fora, era agora apenas um borrão vermelho.
A frente da casa era grande, o revestimento externo era todo de madeira. A pintura estava mais bem conservada do que nos portões, revelando um marrom bem escuro, quase preto. Eu nunca tinha visto uma casa pintada daquela cor. Olhei bem para a casa e, à primeira vista, tive a impressão de que ela nos observava. Havia duas janelas na parte de cima, como olhos assustados. Embaixo apenas uma porta alta de madeira escura, como uma boca gritando por socorro. Já vi oito filmes de terror com casas muito parecidas com esta. Talvez fosse por isso que achavam aquela casa mal-assombrada. Mas na verdade, não era só por isso.
Papai girou a chave na fechadura e a porta se abriu diante de nós. Ao contrário de que estamos acostumados ao ver nos filmes, a porta não fez barulho algum.
- Buuuuuuuuuuuuuu! - gritou papai, virando-se para nós.
Paulo e eu caímos numa gargalhada sem fim.
- Muito assustador, pai - disse eu, ironicamente.
Ele franziu a testa e sorriu orgulhoso para mim.
- Esqueci que vocês dois já são quase homens - e ele passou as mãos sobre nossos cabelos, despenteando-nos - só faltam os pêlos na cara e...
Um gato miou dentro de casa, o som foi alto e nos pegou de surpresa.. Aquilo sim foi assustador. Meu coração quase parou.
- Odeio gatos - disse papai, olhando curioso para dentro da casa.
Entramos na casa, nenhum sinal do maldito gato. O sol ainda ardia lá fora, estávamos em horário de verão. Os dias sempre são mais longos e abafados durante esta época do ano. Odeio calor, sempre me lembro daquela tarde.
A casa tinha um cheiro nada agradável de mofo. Estava fechada há muito tempo, cinco anos, como fiquei sabendo mais tarde.
Depois de alguns minutos, nós nos acostumamos com o cheiro ruim. A sala era aconchegante, estava perfeitamente mobiliada com sofás, uma mesinha de centro, uma estante enorme de madeira, cheia de livros e um criado-mudo estaconado num canto. Sobre o criado mudo havia um telefone muito antigo, daqueles que a gente só vê em museus sobre a história das telecomunicações.
- Quem é o dono desta casa? - perguntei, olhando para a estante cheia de livros.
- Na verdade, é uma proprietária, dizem que a velha é podre de rica
- Ela mora aqui em Pinda mesmo? - perguntou Paulo
- Não, acho que mora em Salvador.
Percorremos cada cômodo da casa e não encontramos nada que justificasse a fama de mal-assombrada. Tudo bem, quando papai abriu a porta, ouvimos aquele gato misterioso. Mas era apenas um gato, não era? Os fantasmas precisam se enforçar um pouco mais pra me convencer.
Estavamos os três na parte superior da casa. Assim como a sala, todos os quartos estavam, impecavelmente, mobiliados. Havia oito quartos lá em cima, além de dois banheiros e uma saleta com um piano. Lembro-me de ter ficado excitado ao ver o piano. Aquele era o meu instrumento dos sonhos, na época eu tinha um teclado Casio, mas nem se comparava. Sentei-me no banquinho e tentei erguer a placa que cobria as teclas, mas não consegui. Parecia estar colada, papai e Paulo tentaram me ajudar, mesmo assim não foi possivel. Fiquei tão frustrado que chutei o instrumento com força, papai quase teve um ataque.
- Márcio, você ficou louco?!? - senti sua pele ficando vermelha e sua mão esquerda começava a tremer - sabe quanto custa um piano como este?!?
- Eu só queria tocar um pouquinho
- E acha que chutá-lo ajuda em alguma coisa?
- Desculpa!
E desci as escadas revoltado e um pouco arrependido da besteira que tinha cometido. O chute que eu dera poderia mesmo ter danificado o piano, seria o fim da minha mesada, por longos anos.
Sentei-me num dos sofás da sala, de braços cruzados e balançando as pernas sem parar. Devo ter ficado naquele estrado de transe por dois ou três minutos, vendo meu par de tênis branco, subindo e descendo sem parar. Quando comecei a ficar entediado com aquilo, ergui os olhos e vi o telefone antigo, fiquei de pé e caminhei sorrateiramente até o criado-mudo. Até hoje, não entendo porque olhei para os lados antes de pegar o telefone. Não tinha ninguém ali, não é? Acho que são coisas de criança levada; a força do hábito.
Tirei cautelosamente o fone, estava ligado ao aparelho através de um fio grosso, bem diferente dos de hoje. Coloquei o fone no ouvido e aquilo me fez lembrar do último gibi do Batman que eu tinha comprado.
- Sim, comissário Gordon - disse eu, com o telefone na boca - já estou indo...
Ouvi um grito seco e assustador pelo telefone. Não era nenhum grito fantasmagórico ou monstruoso, mas sim de um homem. O susto foi tão grande, que deixei cair o telefone das minhas mãos. Para minha sorte, o aparelho caiu sobre o sofá macio.
Prontamente arrumei o telefone no lugar, aparentemente não quebrara nada. Minhas mãos tremiam, senti uma vontade enorme de subir as escadas correndo, mas permaneci na sala, vidrado naquele telefone da idade da pedra.
O telefone estava ali apenas de enfeite; não havia nenhum fio que o ligasse a coisa alguma. Um telefone de museu seria mais útil do que aquele diante dos meus olhos. Mas de onde tinha vindo aquele grito então? Será que eu tinha imaginado aquilo?
Não, eu ouvi perfeitamente o grito apavorado de um homem. E é claro que aquela voz não era do Comissário Gordon sendo atacado pelo Coringa. A voz era real, tão real quanto a minha ou a sua.
Com as mãos trêmulas peguei o fone outra vez. Levei-o lentamente ao meu ouvido e... Nada. Apenas um zumbido baixinho, perfeitamente normal. Fiquei com o aparelho no ouvido durante uns vinte segundos. Assim que eu pensei em devolve-lo à base, ouvi a voz daquele homem outra vez. Ele estava chorando, apavorado. Tive de me esforçar para poder entender o que ele estava dizendo. O que consegui entender, foi: "Quem é você? O que quer de mim? Não!!! Não!!! Por favor, não!!!" E a voz foi ficando baixinha, distante, ininteligível.
Quem era aquele homem? E do que ele tinha tanto medo? Seria alguma coisa do passado? Alguma coisa acontecera naquela casa?



Bom galera, vou parando por aqui por hoje, por que amanhã tenho que acordar cedo e novamente terminei isso aqui muito tarde, qualquer erro de ortografia ou se eu engoli alguma letra é por que meu teclado tá uma merda, logo que eu consertá-lo conseguirei escrever direito novamente, espero que tenham gostado, e peço que comentem, acompanhem o próximo capitulo, poderá ser o último ;)



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